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terça-feira, 28 de abril de 2015

A Era de Ouro do Flamengo- A Taça de Ouro de 1981, Primeira Fase


Taça de Ouro de 1981

Primeira Fase

O grupo rubro negro na fase inicial era composto por Nacional de Manaus, Paysandu, Sampaio Correia, Itabaiana, Fortaleza, Cruzeiro, CRB, Santa Cruz e o adversário da estréia, o Santos.
Flamengo 0x0 Santos

Bria mandou a campo o seguinte time: Raul, Leandro, Rondinelli, Marinho e Carlos Alberto, Andrade, Carpegianni e Adílio, Fumanchu, Nunes e Júlio César.

Sob forte calor, a partida começou de maneira equilibrada. João Paulo travava ótimo duelo com Leandro. E foi o ponta santista quem teve a primeira chance de gol. Aos seis, ele cobrou falta da direita e mandou a bola no travessão de Raul. Aos oito, Júlio César tentou driblar no campo de defesa e acabou desarmado por Nelson, que avançou, passou como quis por Marinho e bateu de perna esquerda. O tiro saiu rente a trave direita.

O jogo era bom. O Flamengo reagiu criando duas boas chances. Aos onze, Leandro foi a linha de fundo e centrou. Nunes fez o corta luz e Adílio finalizou de primeira. Para azar do neguinho bom de bola, o remate saiu por muito pouco. Quatro minutos depois, Júlio César cobrou falta da intermediária com extrema violência. A bomba saiu rasteira e explodiu no poste esquerdo de Marolla. Nunes ainda teve duas oportunidades de abrir o placar, mas desperdiçou ambas.

Depois de um início intenso, a partida caiu muito, a partir dos 25 minutos. Só aos 43 aconteceu nova jogada perigosa. Júlio César bateu escanteio da direita na segunda trave. Adílio emendou de primeira, sem que a bola caísse. Marolla foi ao cantinho esquerdo e fez grande defesa. Chegava assim ao fim um primeiro tempo em que o Flamengo teve três chances claras, contra duas do peixe.

O rubro negro voltou do intervalo com uma alteração tática importante. Carlos Alberto foi para a lateral direita, marcar João Paulo e Leandro foi para a esquerda. Sem ter a quem marcar, pelo menos na teoria, ele estaria livre para apoiar o ataque o tempo todo.

Apesar da mudança, a primeira chance santista aconteceu justamente em cima de Leandro. Claudinho recebeu na meia esquerda e tocou nas costas do lateral para a penetração de Nelson. O lateral do peixe soltou uma bomba, que bateu na trave esquerda de Raul e saiu pela linha de fundo.

Bria logo percebeu que a mudança não surtiria efeito. Com 18 minutos, Leandro retornava para a direita e Carlos Alberto para a esquerda. Aos 21, a primeira alteração no Flamengo. Andrade deixou o campo, sendo substituído por Vítor. Um volante por outro. Dois minutos mais tarde, foi a vez de Ronaldo entrar no lugar de Julio César. Taticamente, o mengo ficou no 4-2-1-3. Vítor e Carpegianni marcavam e saiam pro jogo. Adílio fazia o papel que caberia normalmente a Zico. Fumnachu era o ponta direita. Ronaldo atuava mais centralizado e Nunes era quem ocupava a ponta esquerda. Confuso, o time nada mais criou.

Aos 25, Zé Carlos arriscou de fora da área e a bola quase foi no ângulo esquerdo de Raul. Na transmissão da TV Globo, Luciano do Valle já profetizava: “vai ser difícil alguém tirar esse zero do placar”.

E ele estava certo. A busca pelo bicampeonato nacional começava com vaias da torcida e um empate em zero a zero. Questionados sobre as razões para a má atuação, os jogadores do Flamengo foram quase que unânimes em apontar o calor como principal fator para o jogo ruim. Já pensando em mudanças, Bria disse que não havia gostado do rendimento do time na estréia e que Vítor deveria ganhar a vaga de Adílio.

O problema é que não haveria tempo hábil para treinar, já que na quarta feira a equipe tinha que estar em Manaus. Diante do Nacional, mais uma atuação pífia do Flamengo, que foi inteiramente dominado pelo adversário. Por sorte, Nunes achou um gol e deu o primeiro triunfo ao clube da Gávea.

Modesto Bria mostrava-se perdido. Novamente barrou Vítor e voltou com Adílio. De nada adiantou. Em Belém, derrota acachapante por três a zero para o Paysandú. A crise estava instalada. Começaram a pipocar nomes de possíveis novos treinadores. Sem alternativas e extremamente pressionado, o técnico mudou novamente a equipe. Barrou Andrade e lançou Peu. No coletivo, funcionou. Goleada de quatro a um para os titulares. Marcaram o próprio Peu (2), Adílio e Nunes. Anselmo descontou.

O próximo compromisso era em casa, diante do Sampaio Correia. Uma derrota e Bria perderia seu cargo. Mesmo sem jogar bem, o Flamengo venceu. Dois a zero, dois gols de Fumanchu.

Perseguido pela torcida, o ponta esquerda Júlio César é negociado com o Talleres, da Argentina. Em seu lugar, é confirmado Édson. Leandro, com dores na coxa, também é vetado. Vítor é improvisado na lateral direita. Em busca de maior entrosamento, um coletivo foi marcado para a véspera da viagem para o Sergipe. Nunes, Peu e Fumanchu marcaram para os titulares. Édson descontou para os suplentes.

Diante do Itabaiana, o mengo consegue novo triunfo de dois a zero (gols de Peu e Nunes). Porém, o péssimo futebol persiste e as críticas não param.

Na sexta rodada, uma goleada no Maracanã. Oito a zero em cima do Fortaleza. A noite foi de Nunes, que marcou cinco vezes e se isolou na artilharia da competição. Peu (2) e Vítor completaram o massacre. Pela primeira vez, a equipe recebia elogios.

Bria elogiou o time, mas os problemas continuavam a aparecer. Para a partida diante do Cruzeiro, no Mineirão, Rondinelli foi vetado e Nunes, que se casa na véspera do confronto foi liberado pela Comissão Técnica. Na zaga, entra Luís Pereira. No comando do ataque, Ronaldo.
Com tantos desfalques, o Flamengo voltou a jogar mal e empatou com a raposa em zero a zero.

Preocupados com as condições físicas de Leandro, a diretoria passa a buscar a contratação de um lateral direito. Mauro, do Guarani, fecha por 800 mil cruzeiros, ficando emprestado até o fim da temporada e com passe fixado em oito milhões.

No coletivo, cinco a um para os titulares, gols de Carlos Alberto (2), Nunes, Luís Pereira e Édson. Carlos Henrique descontou.

Em seu penúltimo compromisso nessa fase, a equipe viajou até Maceió, e bateu o CRB por três a dois. Nunes, duas vezes e Peu foram os autores dos tentos. Aliás, o alagoano Peu foi o grande destaque do jogo.

Já classificado, o Flamengo precisava derrotar o Santa Cruz no Maracanã e torcer para que o Santos fosse derrotado pelo Fortaleza na capital cearense se quisesse ficar com o primeiro lugar da chave. Com Édson e Fumanchu contundidos, Bria escalou Carlos Henrique e Lino como seus substitutos.

Nos bastidores, Adílio recebe proposta de 21 milhões de cruzeiros do Dallas Tornados. Mais uma vez, o meia recusa a proposta e segue no rubro negro.

No coletivo apronto, nova vitória dos titulares sobre os reservas, dessa vez por quatro (Nunes , duas vezes, Peu e Lino) a dois (dois de Ronaldo).

Flamengo 2x2 Santa Cruz

A grande atração do tricolor era a presença de Dario, o Dadá maravilha. Como de costume, ele prometeu marcar um gol, que chamou de “gol Márcio Braga”.

Como jogava em casa, o rubro negro tomou a iniciativa do jogo. Taticamente, a equipe se postava no 4-1-3-2 com a bola e no 4-2-3-1 sem a pelota. Leandro, Luís Pereira, Marinho e Carlos Alberto formavam a primeira linha. Andrade era o cabeça da área, Lino, um falso ponta direita. Adílio e Peu eram os meias, sendo que Adílio era quem mais ajudava na marcação, recuando para ajudar a organizar a saída de bola. Na frente, Nunes e Carlos Henrique, que sem a bola voltava para recompor a marcação.

Aos 14, Dario recebeu entre os zagueiros e bateu forte. Raul deu rebote e Baiano acabou finalizando para fora. Nesse lance, Luís Pereira estava visivelmente fora de posição.

O Flamengo finalizava mais, porém sem levar perigo ao gol do Santa. Na transmissão da TV Educativa, o comentarista Sergio Noronha resumia a partida. “O Flamengo toca a bola, toca bola e nada de concreto acontece. Nunes fica muito isolado lá na frente”.

Somente aos 25, o mengo teve a primeira chance de abrir o marcador. Nunes, deslocado pela direita, cruzou na segunda trave. Adílio, da pequena área, sozinho, cabeceou de nariz e tornou a defesa de Wendell tranqüila.

Aos 32, Luís Pereira cortou uma investida do ponta Joãozinho. A sobre ficou com Peu, que lançou Nunes pela meia direita. O atacante avançou e bateu firme. Wendell fez boa defesa e salvou o tricolor.

Um minuto depois, não teve jeito. Andrade roubou a bola, que ficou para Peu. O alagoano tocou para Adílio, que lançou Nunes no mesmo buraco da jogada anterior, entre o lateral esquerdo e o quarto zagueiro do Santa, na meia direita. O artilheiro do campeonato levou a bola e chutou forte. Desta vez, Wendell nada pode fazer. Flamengo um a zero!

Na saída das equipes para o intervalo, o repórter José Luiz Furtado foi entrevistar o jogador Isidoro e uma coisa muito curiosa aconteceu. No lance do gol, esse jogador ficou no chão, pedindo falta de Andrade. Ao ser perguntado se havia achado que sofrera falta no lance do gol, ele respondeu surpreso. “Que gol? Sério que saiu gol naquele lance? Eu estava caído e não vi”. Simplesmente antológico!

Curiosidades a parte, o Santa Cruz voltou para a etapa final melhor. Logo aos quatro minutos, Baiano fez excelente lançamento para Joãozinho, nas costas de Leandro. O ponteiro avançou e na saída de Raul deu uma cavadinha por sobre o arqueiro, empatando a peleja. Um a um.

Não deu nem tempo do tricolor comemorar. Aos seis, Andrade passou por três marcadores e tocou para Carlos Henrique, que de primeira, abriu na esquerda para Carlos Alberto. O improvisado lateral foi à linha de fundo e centrou. Nunes pegou de prima, de virada e marcou o segundo gol. Flamengo dois a um.

Aos 12, Carlos Henrique foi lançado por Peu, ganhou a dividida do lateral Celso e ficou cara a cara com Wendell. Infelizmente, o remate não saiu como ele queria e o arqueiro conseguiu desviar para escanteio.

Aos 22, o Flamengo adiantou sua marcação e Andrade roubou a bola no campo de ataque e tocou para Nunes. O artilheiro abriu para Peu, que invadiu a área e bateu na rede pelo lado de fora. No minuto seguinte foi a vez de Nunes arriscar de longe e assustar o goleiro Wendell. Sergio Noronha profetizou “o Flamengo vive um bom momento e voltou a dominar o jogo. Agora, precisa ter mais calma nas finalizações para marcar logo o terceiro gol e ter tranqüilidade. Afinal, no futebol, quem não faz, leva”.

Ele estava certo. O auto falante do Maracanã anunciou o fim do jogo em Fortaleza. O Santos vencera por dois a um e mesmo que o Flamengo conquistasse os dois pontos terminaria em segundo lugar do grupo. A equipe parece que sentiu isso e baixou a intensidade. Aos 31, Joãozinho chutou na trave de Raul. O rebote ficou vivo na área rubro negra. Baiano tentou nova finalização. A bola bateu na zaga e continuou por lá. Adílio chegou desesperado, tentando cortar o perigo. Só que ao invés de dar um chutão, o neguinho bom de bola tentou tirar com o lado do pé. Caprichosamente, a pelota entrou mansa, no canto esquerdo de Raul. Dois a dois.

Se o Santa Cruz vencesse a partida, tomaria o segundo lugar do Flamengo. Em termos de classificação, nada mudaria, pois os seis primeiros estavam qualificados para a próxima fase. Mas seria razão suficiente para a crise voltar a rondar a Gávea.

Tentando dar um pouco mais de poder de fogo ao time, Bria colocou Anselmo em campo, no lugar de Peu. Na prática, o treinador mexeu demais no time. Lino passou para o meio. Adílio foi avançado para a meia. Anselmo, que é atacante, entrou na ponta direita. Uma tremenda confusão! Não foi surpresa que nada mais de bom tenha acontecido. A única coisa que se viu, ou melhor, ouviu, foram as vaias da torcida, inconformada com o desempenho do time.

No próximo texto: As fases decisivas da Taça de Ouro de 1981. Até lá!


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