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sábado, 6 de fevereiro de 2010

História das Copas- 1938- França


Antes da Copa
Depois do sucesso da edição anterior,a Copa do Mundo passou a ser um objeto de cobiça para todos. Logo após o encerramento dos Jogos Olimpícos de 1936, a FIFA realizou seu congresso, no qual dois países pleiteavam ser a sede da próxima edição.
A Argentina se dizia no direito de ser a escolhida, dentro do rodízio natural dos continentes. E a França, de Jules Rimet. Na realidade, é possível até afirmar que não era exatamente a França que queria sediar o Mundial, e sim, Rimet.
Depois do país europeu ser confirmado como sede,Rimet prometeu a construção e a reforma de vários estádios, para receber a competição. Também ficou acertado que a Copa de 1942 seria na Alemanha Ocidental e a de 1946 no Brasil(a guerra, entretanto, não deixaria esses mundiais acontecerem)
A escolha da França revoltou os argentinos, que imediatamente, se retiraram da competição. Não satisfeitos em somente não participar, os hermanos foram atrás de adesões para um boicote ao mundial. Conseguiram as adesões de Colombia, Costa Rica, Bolívia, Eua, México, El Salvador e Guiana Holandesa.
O Uruguai foi um caso a parte, ainda mergulhado em sua crise técnica e financeira, os argentinos nem precisaram insistir muito para que eles aderissem ao boicote.
O mundo porém, já respirava a guerra. A Espanha estava mergulhada em sua guerra civil. O Japão guerreava contra a China. O Egito tinha problemas políticos internos graves. E, na Europa, a tensão com a Alemanha de Hitler era grande.
As Eliminatórias
Mesmo com esse clima de tensão e guerra, 25 países se inscreveram para disputar as eliminatórias. A novidade ficava por conta da classificação automática do país sede e do último campeão.
No Grupo 1, Suécia e Alemanha Ocidental se classificaram ao derrotar a Estonia e a Finlandia.
No Grupo 2, Noruega e Polonia venceram Irlanda e Iuguslávia, respectivamente.
No Grupo 3, a desistencia do Egito resultou na classificação direta da Romenia.
No Grupo 4, a Suiça venceu Portugal, em jogo único e garantiu a vaga.
No Grupo 5, a Hungria venceu a Palestina e a Grécia e carimbou o passaporte.
No Grupo 6, a Tchecoslováquia, atual vice-campeã mundial, venceu a Bulgária.
No Grupo 7, a seleção austríaca, que viria a passar por um drama(que será relatado mais a frente)garantiu sua vaga contra a Letonia e Lituania.
No Grupo 8, Bélgica e Holanda deixaram Luxemburgo de fora.
No Grupo 9, que era o grupo das Américas, devido ao boicote imposto pela Argentina, Brasil e Cuba se classificaram automaticamente.
E, finalmente, no Grupo 10, as Índias Holandesas conquistaram a vaga com a desistencia do Japão.
Ao lado de França(país-sede) e Itália(atual campeã) chegavamos as 16 seleções que iriam disputar a terceira Copa do Mundo de Futebol.
O drama da Áustria
Menos de 3 meses antes do início da Copa, as tropas de Hitler invadiram a Áustria e anexaram o seu território. O Furher não deixou a seleção austríaca disputar o mundial. E fez pior, autorizou o novo técnico da seleção, Sepp Herberger, a convocar os jogadores austríacos que ele desejasse.
Herberger aproveitou e convocou Hahnemann, Raftl, Mock, Schamaus, Neumer, Skoumal e Stroh. Não pode, porém, contar com o melhor jogador da Áustria, o "homem de papel", Matias Sindelar, que passava por um drama familiar. Sua esposa estava muito doente. Quando ela faleceu, no início de 1939, Sindelar se suicidou.
Sem poder contar com a Áustria, a FIFA poderia ter convidado a Letonia, que acabara em segundo lugar no grupo das eliminatórias. Mas a entidade máxima do futebol preferiu mandar um recado a Hitler. Como reprovava a anexação, não convidaria ninguém e a Copa seria disputada por 15 seleções.
A preparação do Brasil
Pela primeira vez livre de brigas internas, o Brasil pode levar o que tinha de melhor para a França. Depois da convocação dos 22 melhores atletas, houve um perído de treinos de um mes em Caxambú.
O técnico Ademar Pimenta, se deu ao luxo de levar um time para "campo leve", com jogadores mais habilidosos e um time para "campo pesado" para quando fosse necessário jogar sobre chuva ou condições adversas.
O governo federal, também pela primeira vez, ajudou financeiramente, a seleção, promovendo venda de selos, que tinha o seguinte slogan "auxiliar o scratch brasileiro é dever de todo brasileiro".
A seleção embarcou para a Europa no dia 30 de Abril, a bordo do Transatlantico Arlanza. A concentração ficou em Niederbromn, perto de Estrasburgo. Pimenta, preocupado com a espionagem de 4 anos atrás, fez treinos secretos, avisando a imprensa o horário errado das atividades.
As oitavas-de-final
A grande beneficiada com o sorteio foi a Suécia, que enfrentaria a Áustria. Com a ausencia da adversária, os suecos venceram por W.O e avançaram a próxima fase.
A abertura da Copa aconteceu em 4 de Junho, no Parque dos Princípes, em Paris, e reuniu as seleções da Alemanha Ocidental(reforçada pelos austríacos) e pela Suiça.
Em tese, os alemães seriam barbada para esse jogo. Gauchel abriu o placar para os germanicos, aos 29 minutos. Mas Abelgglen empatou a partida aos 43. Tanto no segundo tempo, como na prorrogação, os suiços foram melhores, mas o empate persistiu e nova partida foi marcada.
Todas as outras partidas, a exceção da Suécia, que foi sorteada para enfrentar a Áustria e estava automaticamente classificada para as quartas-de-final, foram disputadas no dia 5 de Junho.
Em Toulouse, a estreiante Cuba surpreendeu o mundo, com um time leve e hábil, embora fraco fisicamente. Kovacs, aos 38 minutos, abriu o marcador para a Romenia. Socorro empatou ainda no primeiro tempo.
Aos 14 minutos do 2 tempo, Baratki marcou e parecia mandar a zebra embora, mas Máquina, de forma inacreditável, empatou a partida, aos 43.
Na prorrogação, logo aos 8 minutos, Dobay voltou a colocar os romenos em vantagem, mas 3 minutos depois Máquina novamente empatou e deu números finais a partida.
Em Le Havre, depois de um empate em 0x0 no tempo normal, a Tchecoslováquia marcou 3 vezes na prorrogação(gols de Kostalek, Nejedly e Zeman) e venceu a Holanda.
Quem não pode reclamar do sorteio foi a Hungria, que enfrentou as Índias Holandesas e goleou por 6x0, com gols de Kohut, Toldi(2), Sarosi e Zsengeller(2).
Em Paris, os donos da casa estreiaram bem e venceram os vizinhos belgas, por 3x1. Mas mesmo assim, a partida não foi fácil. No primeiro tempo, Veinante e Nicolas colocaram os anfitriões na frente, mas na segunda etapa, o domínio foi todo belga. Isemborghs descontou, mas em um contra-ataque, Nicolas definiu o placar.
A atual campeã etreiou em Marselha, enfrentando a Noruega, adversário que havia eliminado a Azzurra das Olimpíadas de 36.
Logo aos 2 minutos, Ferraris abriu o placar. Mas a Noruega partiu para pressão. Aos 38 minutos do 2 tempo, Brustad empatou o jogo. Um minuto depois, os vikings voltaram a marcar, mas o árbitro anulou, alegando impedimento.
Pozzo estava assustado. Mas na prorrogação, Piola se aproveitou de uma bola mal rebatida pelo goleiro noruegues e fez o gol da sofrida classificação italiana para as quartas-de-finais. O treinador italiano podia respirar aliviado, não seria eliminado pela mesma seleção em duas competições consecutivas...
Finalmente, em Estrasburgo, O Brasil de novo tinha um adversário forte numa estréia. A Polonia tinha ótimos jogadores, especialmente no ataque. Como fazia muito sol, o treinador brasileiro optou por escalar a "equipe leve". E o primeiro tempo da seleção foi um primor. Leonidas abriu o placar aos 18 minutos. Aos 23, porém, Domingos da Guia agarrou o atacante polones na área. Penalti que Willimowski converteu. Aos 25, Romeu, de perna esquerda fez 2x1, e aos 44, após cruzamento de Lopes, Perácio, de cabeça, fez 3x1.
Na volta do intervalo, a surpresa. Chovia torrencialmente e o campo ficou muito pesado, muito mais propício aos jogadores poloneses do que aos leves brasileiros. Willimowski marcou 2 vezes, uma 8 e outra aos 12. Era o empate.
A seleção não desanimou e, num chute de longe, Perácio recolocou o Brasil na frente, aos 26 minutos. Quando tudo parecia decidido, Willimowski marcou seu quarto gol e empatou novamente a partida.
Na prorrogação, logo aos 3 minutos, Leonidas se aproveitou de belo passe de Romeu e fez 5x4. Aos 14, aconteceria um lance que entraria para a história do futebol. Em uma dividida, Leonidas perde sua chuteira, mas continua jogando. O árbitro nada percebe, pois o pé do avante brasileiro está coberto de barro. O goleiro polones, ao tentar chutar a bola para a frente, escorrega e Leonidas marca, descalço.
A emoção ainda continuaria presente, pois Scheferke marcou para os poloneses, faltando apenas dois minutos para o fim, em falha de Batatis. Fim de jogo, Brasil 6x5 Polonia. Brasil classificado para as quartas-de-finais.
Os quatro gols marcados por Willimowski, permanecem até hoje como o recorde de gols marcados por um jogador, em uma única partida contra a seleção brasileira.
Em 9 de Junho tivemos as duas partidas desempate. Primeiro uma Alemanha sem "alma" se rendia a maior gana dos suiços. No primeiro tempo, Hahnemann aos 8 e Lorscher, em um gol contra, fizeram 2x0 para os germanicos.
Na segunda etapa porém, tudo mudou. Walascher fez o primeiro. E Abegglen marcou os outros dois da vitória histórica e heróica. O mundo se sentia vingado...
Na outra partida, Cuba, agora muito mais confiante, não se abalou quando Dobay abriu o marcador para os romenos, logo aos 9 minutos. Tunas aos 20 e Sosa aos 35 deram a virada e a vitória aos cubanos.
A grande curiosidade dessa partida, foi que Cuba trocou o goleiro da primeira partida(Carvajales, que havia sido o grande destaque do jogo)por Ayra. A razão da troca vinha de Havana. Entusiasmada com o desempenho da seleção na primeira partida, resolveu-se transmitir o segundo jogo, via rádio. E quem melhor para comentar o jogo, do que o destaque da primeira partida...Para sorte cubana Ayra se mostrou tão bom quanto Carvajales...
As quartas-de-finais
Todas as partidas foram disputadas no dia 12 de Junho. Em Antibes, mais uma vez a sorte sorriu para o suecos. Desa vez eles enfrentaram uma equipe que já se dava por satisfeita por ter chegado até ali.
O resultado foi uma das maiores goleadas da história das Copas. Suécia 8x0 Cuba. O ponta Wettertron foi o grande destaque, ao marcar 4 gols. Os outros foram de feitos por Nyberg(2)e H. Andersson(2)
Em Paris, jogaram Hungria e Suiça. Com gols de Sarosi e Zsengeller, os húngaros venceram com tranquilidade e chegavam as semifinais.
Também em Paris, os donos da casa receberam a Itália. Logo aos 9 minutos, Colaussi abriu o marcador para os campeões do mundo.Um minuto depois, Heisserex empatou a partida.
Mas na segunda etapa, extenuados, os franceses não foram páreo para a Azzurra. Com dois gols de Piola e grandes defesas do goleiro frances Di Lorto, os italianos estavam nas semifinais.
E, em Bordeaux, na inauguração do estádio, o Brasil enfrentava os vice-campeões da última Copa.A partida foi extremamente violenta. Com 9 minutos, Zezé Procópio quebrou o pé de Nejedly e foi expulso. Mesmo com um a menos, Leonidas roubou a bola do zagueiro e chutou para marcar. Aos 44, Machado e Riha saíram no braço e também levaram o cartão vermelho.
Com um a menos, o Brasil recuou Afonsinho para a zaga e Romeu para o meio-de-campo. A Tchecoslováquia pressionou apenas por 10 minutos. Foi quando Domingos da Guia tocou com a mão na bola e o árbitro assinalou penalti. Nejedly, mesmo com o pé quebrado, bateu bem e empatou a partida.
Na prorrogação, mais violencia e contusões. Leonidas e Perácio não tinham mais condições de jogo e o goleiro tcheco Planicka deslocou a clávicula e jogou o resto da partida com o braço "amarrado". O Brasil foi melhor, mas o empate levava a realização de um jogo extra.
No dia 14, a partida desempate. Pimenta mudou o meio-de-campo e escalou Leonidas, mesmo sem as condições ideais. Aos 30 do primeiro tempo, Kopecky, num chute de longe, fez 1x0 para os tchecos.
Mas era a melhor atuação do Brasil na Copa. Leonidas empatou, aos 11 do segundo tempo. E Roberto, depois de uma bicicleta furada de Leonidas, fez o gol da vitória. Pela primeira vez, a seleção estava entre as 4 melhores do mundo.
As Semifinais
No dia 16 de Junho, foram jogadas as partidas semifinais. Em Paris, a Hungria goleou a Suécia, apesar da presença do Rei Gustavo V nas tribunas, por 5x1. E ainda foi de virada, pois Nyberg fez o primeiro. Mas Zsengeller(2), Titkos, Sarossi e um gol contra de Eriksson deram números finais a partida.
Na outra semifinal, o confronto que todos chamaram de "final antecipada". De um lado, os atuais campeões do mundo. Do outro, os brasileiros, os "artistas da bola".
A seleção estava tão confiante na vitória que chegou a marcar a viagem de avião de Marselha para Paris. Mas haviam problemas. Leonidas não pode jogar. Até hoje não se sabe se Pimenta foi confiante ao extremo e resolveu poupá-lo para uma eventual decisão ou se realmente sua contusão era grave e ele não tinha condições de jogo.
Além disso, Niginho, o eventual substituto de Leonidas, não tinha condições legais de ser escalado. Ele era jogador da Lazio da Itália e abandonou o time em 1937. Se o Brasil tentasse escalá-lo, os italianos iriam pedir a impugnação da partida.
O primeiro tempo terminou 0x0, mas a Azzurra foi sempre superior. O goleiro Válter ia fechando o gol e Domingos ia anulando o atacante Piola.
Aos 10 minutos do segundo tempo, depois de um cruzamento que passou por toda a defesa, Colaussi bateu de primeira e fez 1x0.
Aos 15, o lance mais polemico da Copa. Com a bola do outro lado, Domingos deu um soco em Piola, que desabou. Para azar do jogador brasileiro, o árbitro viu a agressão e marcou o penalti que Meazza bateu e converteu.
Aos 35, Patesko passou a Romeu que diminuiu para a seleção brasileira. Depois disso, o Brasil passou a pressionar, mas a Itália, bem armada, apenas segurou a bola e deixou o tempo correr.
Ao fim do jogo, os dirigentes brasileiros(já naquela época despreparados) tentaram apela a FIFA, alegando que o penalti havia sido mal marcado. Chegou a se comemorar a alunação da partida no Brasil. Mas nada aconteceu. A seleção teria mesmo que disputar o terceiro lugar...
Disputa do terceiro lugar
No dia 19 de Junho, o Brasil voltava a campo, desta vez para decidir o terceiro lugar da Copa, contra os suecos. Leonidas estava de volta a equipe.
A seleção dominava a partida, mas num erro de passe de Brandão, Jonasson deu o passe para H.Andersson fazer 1x0, aos 18 minutos. Aos 38, em nova falha da defesa, Nydberg driblou Machado e fez 2x0 para a Suécia. Aos 43, Romeu, com uma bomba, descontou.
No segundo tempo, o Brasil mandou na partida. Patesko perdeu um penalti. Aos 18 minutos, Leonidas empatou a partida. Aos 28, novamente Leonidas fez seu oitavo gol na Copa, o que lhe deu a artilharia. E ainda houve tempo para Perácio, aos 35, marcar o quarto gol.
O Brasil ficava em terceiro lugar. Mas o mundo já sabia que a América do Sul não se limitava a Uruguai e Argentina...
A Final
Também no dia 19 de Junho, em Paris, Itália e Hungria se enfrentavam pela decisão. Com 5 minutos, Colaussi já fazia 1x0 para a Azzurra. A Hungria respirou aos 7, quando o ponta Titkos empatou. A alegria húngara durou pouco. Aos 16, Piola fez 2x1 e aos 35 novamente Colaussi fez 3x1.
No segundo tempo, a Itália apenas administrou a partida. Sarosi ainda dimnuiu aos 25, mas aos 37 Piola deu números finais a decisão.Para alegria de Mussolini e Vitório Pozzo, a Azzurra se sagrava bicampeã Mundial de futebol.
Infelizmente, as guerras interromperam as Copas e elas não foram disputadas em 1942 e 1946. O mundo da bola só voltaria a se reunir em 1950, no Brasil.

Um comentário:

  1. Saudações Gustavo!!! Muito legal o post... Detalhado e informativo. Gostei da introdução, que reforça o contexto histórico daquele período, além dos pormenores, como o "causo" do goleiro/comentarista cubano (que eu não conhecia)!!! Aliás, muito legal a participação de Cuba nessa Copa, apesar da vergonhosa goleada na despedida!!! Outra coisa: muitos não associam as Índias Holandesas com a Indonésia, que pode bater no peito p/ dizer que já chegou a um mundial!!! Enfim... Parabéns pelo excelente trabalho!!! Grande abraço!!!

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