quarta-feira, 6 de maio de 2015
A Era de Ouro do Flamengo- Taça de Ouro de 1981, as fases decisivas
Segunda Fase
Tendo ficado com o segundo lugar do grupo na primeira fase, o Flamengo iria enfrentar Atlético-mg, Colorado e o Uberaba (que veio da Taça de Prata). Todos jogavam contra todos, em ida e volta e apenas os dois primeiros colocados avançariam as oitavas de final.
Porém, antes de voltar ao certame nacional, era hora de faturar. E lá foi a equipe para o Uruguai, participar do Torneio de Maldonado. Na estréia, vitória categórica sobre o Peñarol, por três a zero, com gols de Anselmo, Lino e Peu. Infelizmente, por conta das fortes chuvas, a decisão com o Grêmio foi adiada, ficando para ser disputada em outra data, no Brasil.
De volta a Taça de Ouro, o primeiro jogo era contra o Atlético-mg, no Maracanã, em uma revanche da final do ano passado. Para este clássico, Bria pode contar com Zico, Júnior e Tita, liberados por Telê Santana da Seleção Brasileira que disputava as eliminatórias para a Copa de 82. Da mesma forma, o galo poderia contar com Éder, Reinaldo e Cerezo.
Durante a folga de carnaval, ocorreu um grave problema com o lateral direito Leandro. Ele estava em Cabo Frio, sua cidade natal quando se envolveu em um acidente automobilístico. O jogador teve várias fraturas e estava fora do resto do campeonato. Junto com ele estava o atacante Anselmo, que teve mais sorte. Sofreu apenas alguns arranhões e já foi a praia no dia seguinte.
Preocupada, a Diretoria tratou de contratar logo dois laterais para a sua posição. Carlos veio do São Cristovão. E Nei Dias, do XV de Jaú. Ambos por empréstimo até o fim do ano.
O centroavante mineiro era alvo de preocupação na Gávea. Afinal, havia acabado de ter uma grande atuação na vitória do Brasil sobre a Bolívia em La Paz, por dois a um. Bria designou Luís Pereira para marcar individualmente o camisa nove atleticano.
No coletivo apronto, goleada dos titulares, por quatro (Peu, duas vezes, Nunes e Luís Pereira) a um (Anselmo).
Apesar do bom treino, surgiram problemas de última hora para Bria. Tita, com torção no tornozelo e Júnior, que não acertou a renovação de seu contrato, estavam fora. Dos jogadores da Seleção, apenas Zico jogaria. Apesar dos desfalques do time carioca, a expectativa era de um grande jogo.
Flamengo 2x1 Atlético-mg
Bria mandou a campo o seguinte time: Raul, Carlos Alberto, Luís Pereira, Marinho e Mozer (improvisado na lateral esquerda), Andrade, Adílio e Zico, Lino, Nunes e Édson.
Sem tantos problemas, o time mineiro começou melhor. Logo aos três minutos, Éder cobrou falta da direita e Cerezo, sem marcação, cabeceou para ótima defesa de Raul. Se o treinador rubro negro instruiu Luís Pereira para marcar individualmente Reinaldo não sabemos. Mas que o zagueiro se lançava a frente a todo o momento, deixando a defesa desguarnecida, era fato.
Aos 20, funcionou novamente a dupla Éder e Reinaldo. O ponteiro lançou e o atacante aproveitou a hesitação de Luís Pereira para invadir a área e finalizar rente a meta de Raul.
A improvisação de Mozer na lateral esquerda trazia um grave problema ao Flamengo, já que ele não apoiava e deixava Édson isolado na ponta. Com isso, o time carioca só forçava as jogadas pelo lado direito.
E foi por aquele setor que saiu o lance do gol do galo. Aos 25, o ponta Frazão passou como quis por Mozer e foi derrubado na entrada da área. Éder cobrou de forma magistral, mandando a bola no ângulo superior esquerdo de Raul. Com toda justiça, Atlético um a zero.
Aos 29, o empate rubro-negro Zico, de calcanhar, deixou para Luís Pereira. O zagueiro avançou e tocou para Adílio. O camisa oito descobriu Nunes entrando livre pela meia esquerda, nas costas do zagueiro Osmar. O artilheiro do campeonato bateu forte, de perna esquerda para igualar a peleja. Um a um.
Na etapa complementar, o Atlético continuou melhor, com Éder levando vantagem sobre Carlos Alberto e Frazão em cima de Mozer. Aos 10 minutos, Bria tirou Andrade e pôs Vitor em campo, tentando melhorar a marcação.
Coincidência ou não, no minuto seguinte o Flamengo desempatou. Édson cobrou escanteio da esquerda. A defesa aliviou e a sobra ficou para Adílio, na meia lua. O neguinho bom de bola dominou a pelota e, ao perceber que tinha muita gente na sua frente, deu um toque com o lado do pé, colocando a bola no canto esquerdo de Pereira e marcando um golaço. Flamengo dois a um.
A partir daí, o jogo ficou mais equilibrado. O Atlético saiu pro jogo, tentando chegar ao empate e o mengo teve espaço para explorar os contra ataques. Aos 25, Reinaldo ganhou de Luís Pereira e bateu cruzado. A bola saiu tirando tinta da trave direita de Raul.
Aos 27, Bria tirou Édson e colocou Peu em campo. Na seqüência, Nunes deixou Lino na cara do gol, com um brilhante toque de calcanhar. Ao invés de colocar a bola, Lino optou por chutar forte. Infelizmente, o remate acabou saindo à esquerda de Pereira.
Os espaços apareciam cada vez mais. Aos 31, Lino cruzou. Zico ganhou de Osmar, girou e chutou. Pereira fez um milagre e conseguiu desviar para escanteio. A partida passou a ser disputada em ritmo alucinante. No minuto seguinte, Peu foi desarmado na intermediária. Éder foi lançado por Heleno nas costas de Carlos Alberto, que saia para buscar o ataque. O camisa onze ganhou na velocidade de Luís Pereira e bateu forte. A bola explodiu na trave esquerda e saiu pela linha de fundo.
Aos 38, Cerezo recebeu de Éder, fintou Adílio e mandou uma bomba que explodiu na trave. Dois minutos depois, novamente Éder quase empatou a partida ao cobrar falta com violência. O chute explodiu no peito de Raul. Para sorte do goleiro, ninguém do Atlético estava perto para conferir a sobra.
No fim das contas, o Flamengo levou os dois pontos, mas novamente, não esteve bem no jogo. O Atlético criou mais chances e merecia melhor sorte.
Contra o Uberaba, fora de casa, Bria voltaria a não poder contar com Zico, Júnior e Tita, novamente na Seleção. Mozer foi mantido na lateral esquerda, Peu substituiu o galinho e Lino seguia na ponta. A renda da partida foi recorde do estádio do interior mineiro. Nunes, de bicicleta, deixou mais uma vez a sua marca. Do outro lado, porém, Raul também sofreu um gol e a partida terminou empatada.
A terceira partida seria em Curitiba, diante do Colorado. Bria mais uma vez ia mexer na equipe. Rondinelli foi escalado na lateral direita, com Carlos Alberto passando para a esquerda. Rond não gostou nem um pouco de ser improvisado e reclamou muito. Para completar, mais duas alterações: a entrada de Fumanchu na vaga de Lino. E a volta de Carpegianni, no lugar de Peu.
Como era de se esperar, a equipe esteve desentrosada, confusa e nervosa. Foi goleada por quatro a zero. E se não fosse Raul, o prejuízo poderia ter sido ainda maior. Com o resultado, o Flamengo ficava em segundo lugar, com três pontos, junto do Atlético-mg e um ponto atrás do Colorado, novo líder da chave.
No dia seguinte a derrota, o Milan anunciou que mandaria representantes ao Rio para comprar o passe de Zico. A Diretoria rubro-negra sequer recebeu o ex ídolo e então Diretor do rossonero, Gianni Rivera. Mesmo assim, os italianos apresentam sua proposta. O Flamengo queria 4 milhões de dólares. Os europeus ofereciam apenas 1,6 milhões. Para alívio geral da nação, a negociação foi abandonada. Zico, todavia, avisou que exigiria salários e prêmios ao nível de Europa para renovar.
Pela quarta rodada, o compromisso seria em Belo Horizonte, diante do Atlético-mg. Prestigiado, Bria pensa em promover a estréia de Nei Dias, na lateral direita. Na Gávea, a Diretoria acertou a renovação do contrato de Júnior. O lateral, assim como Zico e Tita ainda não estariam disponíveis para enfrentar o galo. Mas reforçariam a equipe nos dois últimos jogos da fase.
Um clima hostil era esperado em BH. Afinal, ao Atlético também só interessava a vitória. Apesar das expectativas, dentro das quatro linhas, o jogo foi morno. Ninguém quis arriscar demais, sabendo que poderia decidir a sua sorte nas duas rodadas derradeiras, diante de adversários teoricamente mais fracos. E o placar não foi alterado. Zero a zero.
Com isso, bastava ao Flamengo vencer o Uberaba, no Maracanã e contando com a volta dos jogadores que estavam na Seleção para garantir a classificação as oitavas de finais. Para surpresa de todos, a Diretoria acertou com Dino Sani para ser o novo técnico do time. Modesto Bria só ficaria até o confronto diante do Colorado. A razão alegada para a substituição no comando técnico era que o Flamengo precisava de alguém com mais nome, com mais pulso para as fases derradeiras da Taça de Ouro e, especialmente para a Libertadores que se aproximava.
Como precisava arrumar dinheiro para renovar o contrato de Zico, os passes de Adílio e Rondinelli devem ser vendidos ao Corinthians, após o término do Brasileiro.
Flamengo 4x2 Uberaba
Em seu penúltimo jogo, Bria mandou a campo o seguinte time: Raul, Carlos Alberto, Luís Pereira, Marinho e Júnior. Vítor, Adílio e Zico, Tita, Nunes e Carlos Henrique. Apesar de contar com a volta dos jogadores que classificaram o Brasil para a Copa de 82, o rubro-negro parece que entrou em campo dormindo. Logo aos quatro minutos, Nei entrou num buraco entre Carlos Alberto e Luís Pereira. Para nossa sorte, ele chutou torto, saindo longe da meta do fla.
Dois minutos depois, não teve jeito. Paulo Luciano recebeu na intermediária, driblou Adílio e bateu. Raul falhou e a bola passou entre seus braços. Uberaba um a zero. Aos oito, Zico lançou Nunes que passou pelo goleiro, mas perdeu ângulo. Mesmo assim e apesar do galinho estar sozinho no meio da área, o atacante tentou a conclusão, que acabou indo pela linha de fundo.
O Flamengo tentava reagir. Aos 12, Zico cobrou falta e obrigou o goleiro do time mineiro a fazer uma difícil defesa. A atuação, contudo, era ruim. Carlos Henrique, bastante acionado, não ganhava uma disputa com seu marcador. Pior, seu posicionamento travava as tentativas de apoio de Júnior. Zico pouco pegava na bola. Vítor era obrigado a cobrir as seguidas investidas de Luís Pereira ao ataque, o que deixava o meio de campo fragilizado. E o lado direito, onde Tita se postava, era praticamente esquecido, pois por ali não se atacava.
Na transmissão da TVE, o comentarista Achiles Chirol dizia: “Há muito tempo que não vejo o Flamengo jogar tão mal como nesse primeiro tempo”. E a coisa ainda piorou. Aos 37, Nezinho lançou Nei nas costa de Luís Pereira. Carlos Alberto não estava lá para fazer a cobertura. O ponta passou por Raul e cruzou para Serginho só encostar. Uberaba dois a zero. Silêncio no Maracanã!
O Flamengo voltou do intervalo com uma alteração: Ronaldo no lugar de Carlos Henrique. A equipe mudou a atitude. Inflamada, a torcida veio junto. Aos cinco minutos, Júnior cobrou escanteio da esquerda. O goleiro Diron saiu mal e a bola sobrou para Tita, que bateu meio sem ângulo. A finalização desviou na cabeça do zagueiro Rafael e entrou. Taticamente, ouve apenas uma modificação. Nunes passou a ocupar com mais freqüência o flanco esquerdo, enquanto Ronaldo ocupava seu lugar no meio. Isso confundiu a zaga adversária.
O empate veio aos 14. Zico cobrou falta da direita. Marinho cabeceou prensado com as costas do zagueiro. Para sua felicidade, a sobra ficou na medida para que o zagueiro soltasse uma bomba, de primeira, quase no ângulo esquerdo de Diron. Dois a dois!
Aos 21, a virada. Júnior cobrou escanteio da esquerda na primeira trave. Zico desviou de calcanhar e achou Nunes sozinho, dentro da pequena área. O artilheiro do certame só teve o trabalho de desviar para as redes. Três a dois!
Aos 27, Júnior e Nunes tabelaram pela meia esquerda. O capacete deu um grande passe em profundidade para a penetração de Ronaldo, que cruzou no capricho para Tita pegar de sem pulo e marcar o quarto gol rubro-negro. Um prêmio pela mudança de atitude do time.
Faltando nove minutos para o fim, Zico sentiu uma pancada e foi substituído por Fumanchu, que entrou na ponta direita. Sendo assim, Tita foi para a vaga do galinho, no meio de campo. Sem seu maior astro em campo, o rubro-negro tirou o pé do acelerador e apenas tocou a bola e gastou o tempo. A virada emocionou Bria e os jogadores, que dedicaram a vitória ao treinador.
Como o Atlético-mg venceu o Colorado, no Paraná, o grupo ficou assim para a derradeira rodada. Em primeiro, o Flamengo, com seis pontos. Em seguida, vinham o Atlético e o Colorado, com cinco. Na lanterna, o Uberaba, com quatro. Os confrontos serão Flamengo x Colorado e Atlético x Uberaba.
Na reapresentação do grupo, Tita afirmou que não mais jogaria na ponta direita e que queria brigar pela posição no meio do campo, assim como fizera na Seleção (e Telê nunca mais o chamou). Como a equipe estava praticamente classificada para as oitavas de final, a preocupação da Diretoria passou a ser a renovação do contrato de Adílio e o fim do seguro de 60 dias de Marinho e de Carlos Alberto (naquela época, a legislação permitia que o clube oferecesse um seguro para o jogador seguir atuando após o fim do seu contrato. Esse seguro tinha duração máxima de dois meses e, após o fim, o clube era obrigado a fixar o preço do passe do jogador na Federação. A partir dali, qualquer clube que depositasse o valor, levaria o atleta). Esses três casos aconteceriam durante a fase de mata mata da Taça de Ouro.
Para aliviar um pouco os problemas, Zico foi reavaliado e liberado para o confronto diante do Colorado, que estava atravessado na garganta dos jogadores após a goleada sofrida por quatro a zero.
Flamengo 2x1 Colorado
Para seu último jogo no comando do mengo, Bria manteve a equipe do segundo tempo contra o Uberaba, com Ronaldo na vaga de Carlos Henrique. Fechadinho na defesa, o Colorado explorava os contra ataques e os erros do Flamengo. No primeiro deles, aos quatro minutos, Júnior errou um passe simples para Marinho. Buião interceptou e tocou para Jorge Nobre finalizar com muito perigo.
O rubro negro repetia os erros dos jogos anteriores. Era muito lento na transição ofensiva, o que facilitava a recomposição do time paranaense. A torcida, que comparecia em grande número ao Maracanã, começava a ficar nervosa e a reclamar do rendimento dos cariocas.
Aos 24, teve início uma impressionante seqüência de oportunidades. Zico mandou uma bomba de longe, que passou rente ao travessão de Joel Mendes. Na jogada seguinte, o Flamengo apertou a marcação no campo de ataque e Ronaldo conseguiu roubar a bola. Dali, o toque foi pra Nunes, que carregou e serviu Tita. O chute saiu forte e Joel Mendes fez milagre para defender. Aos 25, foi a vez de Vítor tomar a pelota e lançar Nunes, em posição duvidosa. O atacante mandou o tiro longe do goleiro. Infelizmente, a bola saiu raspando a trave direita. A pressão não parava. Aos 27, Zico ganhou com falta do zagueiro Caxias, foi a linha de fundo e cruzou para trás. Adílio dominou e chutou. A bola desviou em um defensor e novamente Joel Mendes estava lá para evitar o primeiro gol rubro negro.
Aos 39, a zebra apareceu. Jorge Nobre recebeu dentro da área, protegeu a bola com o corpo e abriu para Buião, na direita. O ponta foi a linha de fundo e cruzou rasteiro, forte. Aladin, sozinho, completou na segunda trave e fez um a zero para o Colorado. Esta derrota, combinada com a vitória do Atlético-mg sobre o Uberaba eliminava o Flamengo da Taça de Ouro. Para variar, a equipe deixou o gramado sob vaias.
Com o apoio da torcida, o Flamengo começou a etapa final em cima, porém sem criar uma grande oportunidade. E pior, dava espaço para os contra ataques do Colorado. Na transmissão da TV Globo, Gérson dizia: “Tá fácil, fácil entrar na defesa do Flamengo. A coisa ta complicando.” Aos nove, quase o time do Paraná aumenta. Nílton tabelou com Aladim, recebeu na frente e soltou um pombo sem asa que explodiu no travessão de Raul.
Aos 16, Bria pôs Nei Dias em campo, para substituir Carlos Alberto, que pediu para sair pois estava errando tudo o que tentava. O dia parecia que não seria mesmo rubro-negro. Aos 18, Nei Dias cruzou na cabeça de Zico, que estava desmarcado. O galinho testou com consciência mas a bola caprichosamente explodiu na trave de Joel Mendes.
Aos 22, Zico e Luís Pereira foram tabelando desde o meio campo. O camisa 10 tentou a finalização, mas o chute saiu a direita da meta do Colorado. No minuto seguinte foi a vez de Tita assustar o goleiro com um tiro de fora da área.
A pressão era toda rubro-negra. Muito mais na base da raça e do apoio da torcida do que da organização, o time se lançava a frente. Aos 29, Bria tirou Ronaldo e colocou Fumanchu, que foi jogar na ponta direita, com Tita passando para a extrema esquerda.
No lance seguinte, Joel Mendes fez duas defesas espetaculares. Primeiro em uma cabeçada de Adílio. Depois, num chute a queima roupa de Nunes. O tempo ia passando e nada do gol sair. Aos 33, Adílio saiu carregando da intermediária e rolou para Zico. O galinho entrou na área e na saída do goleiro tocou com imensa categoria, empatando o jogo. Um a um.
Aos 35, Tita tocou para Zico, que passou no meio de dois marcadores e de bico, de perna esquerda, desempatou e garantiu a virada e a classificação rubro negra. Dois a um e com um golaço com a assinatura do camisa dez da Gávea!
Uma análise um pouco mais fria mostra que as duas últimas viradas aconteceram muito mais na base do talento individual e do recuo excessivo dos adversários do que por méritos do Flamengo. Estava claro que para poder brigar pelo título, a equipe ainda teria que melhorar muito.
Com o primeiro lugar garantido, o próximo adversário seria o Bahia, já pelas oitavas de final da competição. Dino Sani assume no lugar de Bria e já realiza uma alteração tática: Adílio vai para a ponta direita e Tita passa a jogar no meio. Acaba desistindo, pois só teve dois dias de treinos para o primeiro jogo.
Na Fonte Nova lotada, o Flamengo foi inteligente, tocou a bola e não correu grandes riscos, segurando o zero a zero com o Bahia. O novo treinador acabou optando por tirar Vítor da equipe, escalar Adílio e Tita no setor e Fumanchu na ponta direita. Ao ser substituído, Adílio deu a seguinte declaração: “Estão querendo me derrubar. Isso é coisa do Tita que quer jogar no meio de qualquer jeito”. Pronto, Dino Sani mal havia chegado e já tinha que enfrentar a sua primeira crise.
Flamengo 2x0 Bahia
Dino Sani novamente mudou o time. Fumanchu foi para a ponta direita e Tita para a esquerda. Além disso, Nei Dias foi efetivado na lateral direita. A partida começou em marcha lenta. Só aos 10 minutos, Zico fez lançamento longo para Fumanchu que centrou para Nunes finalizar de primeira. O remate passou raspando a trave esquerda.
Aos 14, Nei Dias cruzou na segunda trave. Nunes ajeitou de cabeça e Adílio bateu firme, para boa defesa do goleiro Renato. A atuação rubro-negra não era boa. De novo. Aos 29, Gílson Gênio arrancou da intermediária, driblou Vítor e Luís Pereira e bateu com muito perigo para Raul. Aos 40, Fumanchu sentiu uma pancada no joelho direito e foi substituído por Anselmo. E nada mais aconteceu no primeiro tempo.
Logo aos dois minutos da etapa final, quase o Bahia abre o marcador em duas oportunidades. Na primeira, Leo Oliveira deu grande passe para Washington, que invadiu a grande área, nas costas de Júnior e chutou. Raul conseguiu desviar e a zaga mandou para escanteio. Na cobrança, Gílson passou por Marinho e finalizou a direita do goleiro carioca.
O Flamengo somente ameaçou aos 26, quando Zico cobrou uma falta com perigo para Renato. Aos 31, finalmente saiu o gol rubro-negro. Nei Dias cruzou da direita. A bola passou por toda a defesa baiana e se ofereceu para Nunes só completar na segunda trave. Um a zero.
Aos 45, Tita roubou a bola no campo de ataque, passou pelo seu marcador e cruzou. Nunes, de peixinho, mandou para o fundo das redes, marcando o seu décimo sexto gol na Taça de Ouro. Flamengo, classificado para as quartas de final, dois, Bahia zero.
Apesar de estar a seis jogos de conquistar o bicampeonato nacional, mais uma vez a atuação foi duramente criticada pela torcida e pela imprensa. Os especialistas diziam que sem pontas autênticos, o que embolava o jogo pelo meio. Na Gávea, os jogadores fizeram uma reunião para selar a paz e fazer um pacto pelo título.
O adversário das quartas de final seria um velho conhecido, o Botafogo, que despachara o CSA. O alvinegro teria a vantagem de jogar por dois resultados iguais. No coletivo apronto, vitória dos titulares, por três a um. Gols de Nunes (2) e Zico, com Peu descontando para os suplentes. Para melhorar ainda mais o clima, Marinho e Carlos Alberto renovaram seus contratos e estavam aptos a enfrentar o rival.
Flamengo 0x0 Botafogo
Chovia muito no Rio de Janeiro. O gramado, apesar de estar em boas condições, estava bastante pesado. Mesmo assim, mais de 117.000 pessoas foram ao estádio. Apesar de precisar da vitória, para reverter a vantagem alvinegra, Dino Sani mandou o time a campo com dois volantes. Raul, Carlos Alberto, Luís Pereira, Marinho e Júnior. Vítor, Andrade e Zico, Tita, Nunes e Adílio foi o time escolhido pelo treinador para começar o clássico. Na realidade, era o 4-2-3-1 tão usado hoje em dia.
A partida começou com o Flamengo tomando a iniciativa, atacando muito e com o Botafogo fechadinho na defesa, tentando explorar os contra ataques e cometendo muitas faltas para truncar o jogo.
Só aos 23 minutos, o rubro-negro conseguiu vencer o forte bloqueio defensivo do rival e ameaçar a meta de Paulo Sérgio. Zico e Adílio tabelaram pela meia esquerda. O galinho finalizou prensado por Ademir Lobo e o remate saiu rente a trave direita.
Aos 30, Júnior recebeu na intermediária ofensiva, ajeitou e mandou uma bomba. A bola quicou na frente de Paulo Sérgio e ganhou velocidade no campo molhado. O goleiro do Botafogo fez uma grande intervenção e conseguiu desviar o tiro para escanteio.
O grande problema do Flamengo seguia sendo a falta de jogadas pelas pontas. Na direita, Carlos Alberto era limitado e Tita circulava por todo o campo. Na esquerda, Júnior estava acostumado e funcionava melhor entrando mais pelo meio. E Adílio pouco aparecia na extrema. Dessa forma, o time embolava pelo meio e facilitava a marcação alvinegra.
O rubro-negro voltou do intervalo com uma alteração. Peu substituiu Adílio. Só que a deficiência permanecia. Em um lance, logo aos cinco minutos, Júnior recebeu a bola pela meia esquerda e teve que parar a jogada para pedir desesperadamente a presença de alguém naquele lado.
Aos 16 minutos, Perivaldo recebeu um escanteio curto, derivou para o meio e bateu forte, de perna esquerda. Raul desviou para corner, no que foi a primeira chance do Botafogo em toda a partida.
Aos 20, a melhor chance do Flamengo em todo o clássico. Tita cobrou tiro de canto da direita. Luís Pereira cabeceou para cima. Nunes dividiu com Paulo Sérgio, que conseguiu dar um soco e mandar a bola para a entrada da área. Andrade viu que o goleiro estava adiantado e tentou encobri-lo. Para seu desespero, a bola tocou no travessão e saiu. No minuto seguinte, Carlos Alberto centrou e Tita, sozinho, testou para segura defesa do camisa um do Botafogo.
Porém, as coisas se complicaram aos 28. Nunes deu uma entrada desleal, por trás, em Perivaldo. O árbitro Romualdo Arppi Filho não teve dúvidas e mostrou cartão vermelho para o artilheiro do Campeonato. Pior, ele já era desfalque certo para o jogo de domingo, que decidiria a classificação.
Com um homem a mais, o Botafogo tratou de tocar a bola e não correr riscos desnecessários. E ainda teve tempo para perder mais uma oportunidade. Aos 43, Perivaldo recebeu passe longo de Marcelo, entrou no espaço deixado por Júnior em suas costas e bateu forte. Raul fez grande defesa e impediu que o prejuízo rubro-negro fosse ainda maior. No fim das contas, a partida terminou mesmo no zero a zero.
Sem muito tempo para treinar qualquer alternativa, Dino Sani confirma Peu na vaga do suspenso Nunes. Sua idéia era ter um ataque sem centroavante fixo, com muita movimentação, para tentar envolver o sistema defensivo alvinegro na base do toque de bola.
Flamengo 1x3 Botafogo
O Botafogo entrou com Jérson, um homem de meio de campo no lugar do atacante Mirandinha. Ou seja, ia jogar fechadinho novamente, já que o empate lhe favorecia. Só que o Flamengo conseguiu reverter a vantagem logo aos quatro minutos. Júnior cruzou, a zaga afastou e Adílio emendou. A bola bateu em Zico e enganou Paulo Sérgio. Um a zero. E o alvinegro teria que sair para o jogo.
Peu, caindo mais pela esquerda, dava uma canseira em Perivaldo. Apesar de não criar grandes oportunidades, o rubro-negro jogava bem e mandava no jogo. O Botafogo assustou aos 20, em uma bola parada. Depois de um escanteio cobrado por Marcelo, Mendonça cabeceou com perigo para Raul.
Aos 24, Júnior ganhou na base da vontade de Rocha e tocou para Zico. O galinho invadiu a grande área, mas chutou fraco, de perna esquerda, desperdiçando excelente oportunidade. Doze minutos depois, o camisa 10 teve nova chance de aumentar a vantagem e dar tranqüilidade ao Flamengo. Adílio fez jogada individual pela esquerda e rolou para Zico, que dominou de direita, girou e bateu de esquerda. A pelota passou tirando tinta da trave esquerda de Paulo Sérgio, que pulou, mas não alcançaria se a redonda fosse para o gol.
Aos 44, Júnior perdeu a bola na intermediária para Rocha. O volante lançou Perivaldo, que cruzou. Raul saiu mal do gol e Mendonça se antecipou e empatou o clássico. Voltava a dar Botafogo.
Precisando da vitória, o Flamengo foi com tudo para frente, dando ao alvinegro o contra ataque que ele tanto queria. Aos dois minutos, Marcelo só não fez o segundo porque dominou mal a bola. Dois minutos mais tarde, Adílio respondeu com uma finalização que passou raspando a trave.
Aos 14, Dino Sani mexeu no time. Saiu Andrade e entrou Carpegianni, voltando depois de um longo período lesionado. Segundo o treinador, a substituição era “para ganhar qualidade e entrar mais na área do Botafogo”. Os microfones da TV Globo flagraram Sani cometendo uma gafe ao chamar Andrade de Júnior, quando o volante deixava o gramado.
Aos 31, Sani colocou Anselmo em campo, no lugar de Peu. A tentativa era dar um pouco mais de presença física na briga contra os zagueiros. Não funcionou. Cada vez mais exposto, o Flamengo dava mais e mais espaço para o contra ataque.
Aos 38, Zico cobrou falta na barreira. A sobra ficou com Rocha que lançou Mirandinha. O atacante invadiu a área, tocou por cima de Raul, mas Vítor salvou em cima da linha. Aos 40, não teve jeito. Mirandinha Laçou Édson, que disparou pela direita e centrou na segunda trave. Mendonça desviou para o meio e Jérson completou para as redes.
A cereja no bolo alvinegro veio aos 42. Édson cruzou. Mendonça dominou, entortou Júnior com um drible desconcertante e com extrema categoria tocou na saída de Raul. Botafogo três a um. Os planos para o bicampeonato nacional ficavam para 1982.
Nas semifinais, o São Paulo eliminou o Botafogo e o Grêmio a Ponte Preta. Na decisão do título, o tricolor gaúcho venceu duas vezes o tricolor paulista e conquistou pela primeira vez o campeonato brasileiro.
No próximo texto: A preparação para o Campeonato Carioca e para a Libertadores. Até lá!
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